quarta-feira, 2 de março de 2011

Capitalismo e Espaço geográfico

Num primeiro momento da História da humanidade, a natureza determinava a sobrevivência e a mobilidade do homem sobre a Terra. O desenvolvimento técnico e a construção de instrumentos de trabalho tornaram possíveis a transformação da natureza e a produção dos elementos vitais ao ser humano, abolindo a necessidade dos freqüentes deslocamentos. Na medida em que tornaram as comunidades sedentárias surgiram as noções de propriedade da terra. A partir de então, o progresso técnico tornou-se cada vez mais freqüente. O uso da metalurgia e da cerâmica constituiu outro passo decisivo para o desenvolvimento das comunidades. O comércio foi outra importante atividade humana que contribuiu para o aprofundar as transformações espaciais.

Capitalismo e renascimento comercial

A partir dos séculos XV e XVI, a expansão da rede comercial incorporou e provocou o desenvolvimento tecnológico. As invenções da caravela, da bússola e do astrolábio criaram novas possibilidades de navegação a longa distância. Foi o momento da transição do feudalismo para o capitalismo. O feudalismo apoiava-se numa relação social definida pela dependência entre senhores e vassalos, no trabalho servil, numa economia rural que tendia à auto-suficiência e num sistema político descentralizado. No capitalismo, as empresas especializam-se na produção de um determinado produto, possibilitando o intercâmbio de diferentes mercadorias. O Capitalismo comercial inaugurou, assim, o comércio em larga escala e intercontinental, integrando América, África, Europa e Ásia. O uso da pólvora foi fundamental para a submissão dos povos que compulsoriamente se viram integrados à nova ordem econômica européia. O Mercantilismo, doutrina econômica e política do capitalismo comercial, criou as bases de uma nova geografia européia e mundial. Fortaleceu a unificação territorial a partir de um governo centralizado, dando origem aos Estados Nacionais europeus. Ao mesmo tempo em que se desenvolvia o comércio em larga escala, ocorria o desenvolvimento da manufatura, em substituição às corporações de ofício remanescentes do período feudal

A revolução industrial

A mais profunda transformação espacial ocorreu com a introdução da indústria moderna na Inglaterra, que marcou o início do Capitalismo industrial. Tudo isso modificou as relações sociais e territoriais, difundiu cultura e técnica, aprofundou a competição entre os povos, concentrou a população no espaço urbano e provocou o crescimento cada vez maior das cidades. Com a invenção da máquina a vapor, em 1769, a produção industrial teve grande impulso. Nas fábricas, os trabalhadores eram obrigados a trabalhar no ritmo definido pelas máquinas. Outra parte da mão-de-obra disponível foi requisitada para o trabalho nas mina de carvão. Ao mesmo tempo, estabeleceu a divisão internacional do trabalho entre os países industriais e as regiões fornecedoras de produtos agrícolas e minerais. Do ponto de vista geográfico, intensificaram-se cada vez mais as relações entre territórios distantes, assim como intensificou-se o fenômeno da urbanização.

Revolução industrial e urbanização

O capitalismo comercial já havia modificado a estrutura e o papel das cidades e o modo de vida urbano. Na cidade desenvolveram-se a produção artesanal e a manufatureira. Com o capitalismo industrial, a população urbana passou a crescer mais do que a rural. A revolução industrial provocou ainda uma revolução agrícola, com a produção de instrumentos para o trabalho na terra e com a modificação do sistema de propriedade e de organização de trabalho no campo. O trabalho agrário, cada vez mias especializado e menos de subsistência, obrigou o agricultor a complementar as suas necessidades, comprando outros produtos no mercado urbano. A dinamização da economia e a intensificação dos intercâmbios comerciais exigiram a ampliação das vias de comunicação que, ao convergirem para as cidades, estimularam ainda mais o seu crescimento. Um novo meio de transporte revolucionou os meios de comunicação: o ferroviário. Isso possibilitou o aparecimento de novas regiões industriais na Europa, e cada vez mais novos produtos foram colocados no mercado. Essa fase caracteriza o que se convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial. Enquanto a indústria inglesa mantinha, em grande parte, os equipamentos e maquinários tradicionais, os novos países que industrializavam na Europa ( como Alemanha ) e em outras regiões do mundo (como os Estados Unidos e o Japão) incorporavam as novas tecnologias e instalavam suas indústrias em consonância com as novas infra-estruturas de transporte e energia, tornando-se, neste sentido, mais competitivos.

O capitalismo monopolista

Nesta Segunda fase da revolução Industrial, o desenvolvimento da industrialização em outros países e a aplicação de novas tecnologias à produção e ao transporte modificaram profundamente a orientação liberal. Boa parte das indústrias passou a contar com a participação do capital bancário ou financeiro. No final do século XIX, a fusão entre o capital industria e o financeiro, e mesmo a fusão entre indústrias, levou ao aparecimento de empresas gigantescas, com alto nível de tecnologia. A concorrência, que levava a uma diminuição das taxas de lucro, foi driblada pela instituição do monopólio e de acordos econômicos entre empresas do mesmo ramo. O capital monopolista criou os truste, associações de várias empresas que controlam todas as etapas da produção de uma mercadoria, desde a extração da matéria-prima. Criou também os cartéis, acordos entre empresas, que estabelecem os preços de seus produtos, o volume de suas produções e dividem o mercado consumidor entre si.


Imperialismo e disputas geográficas

Na segunda metade do século XIX, nos países industrializados, a ampliação da capacidade de produção havia atingido o limite de consumo de seus mercados tradicionais. A continuidade do processo dependia da conquista de novos consumidores e de novas fontes de matérias-primas. Pouca regiões do mundo ficaram imunes ao assédio das potências, determinadas a assegurar e alargar as suas áreas de influência, imprescindíveis ao abastecimento de suas indústrias com matérias-primas e ampliação do mercado de consumo de seus produtos. O mais vasto império colonial foi constituído pela Inglaterra. O Japão conquistou a Coréia, ocupou a Manchúria e Formosa. Os Estados Unidos, por intermédio da Doutrina Monroe, cujo princípio resumia-se no slogan "A América para os americanos", sinalizaram a área prioritária de sua expansão: todo o continente americano. A França, importante potência européia, conquistou Marrocos, Argélia, Tunísia, Mauritânia, Senegal e outros países africanos. A África foi o continente mais marcado pela ocupação imperialista. Seu território foi dividido entre as nações européias, sem que respeitassem os espaços comunitários e as diferenças culturais. Além da resistência interna à ocupação, muitos dos territórios ocupados por um país eram disputados por outros, originando uma situação de permanente tensão internacional durante a fase imperialista. De fato, o acirramento da disputas interimperialistas condicionou a deflagração das duas maiores guerras ocorridas em toda a história da humanidade: a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, e a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945.



A Primeira Guerra Mundial

O aprofundamento das rivalidades entre os países imperialistas levou as nações a criarem um forte sistema de alianças. Em 1882, Itália, Alemanha e Áustria-Hungria formaram a Tríplice Aliança e, em 1907, Reino Unido, França e Rússia estabeleceram a Tríplice Entente. Os territórios ocupados pelo Império Otomano passaram a ser uma nova frente de disputa imperialista, entre o expansionismo do Império Austro-húngaro e o nacionalismo da Sérvia, que contava com o apoio da Rússia. O assassinato de Francisco Ferdinando foi interpretado pelo império Austro-húngaro como uma agressão sérvia e foi o fato decisivo para o estopim da Primeira Guerra Mundial. A Primeira Guerra causou profundas transformações no mundo no início do século XX. Os países europeus, que tiveram suas plantações arrasadas e sua industrialização interrompida, passaram a depender basicamente dos EUA para se abastecer e se organizar economicamente. Os EUA declararam guerra à Alemanha em 1917.Em julho de 1918, as tropas da Rança, da Inglaterra e dos Estados Unidos realizaram uma investida decisiva, obrigando à capitulação da Áustria, da Bulgária e da Turquia. A guerra para a Alemanha só terminaria meses depois, com a abdicação do kaiser alemão e com a rendição incondicional desse país. O Tratado de Versalhes impôs à Alemanha uma situação arrasadora, pois, além das indenizações de guerra que minguaram por mais de uma década sua economia, esse país teve que renunciar a todas as suas colônias e ceder a sétima parte do seu território a outros países da Europa. As fronteiras definidas pelos tratados pós-guerra eram instáveis. Os conflitos entre as diversas nacionalidades que compartilhavam o mesmo espaço nacional geraram uma instabilidade permanente, com graves conseqüências para a geopolítica do mundo atual.



Socialismo- transformações históricas e espaciais

A Revolução Russa rompeu em parte com as relações entre a sociedade e o espaço que caracterizaram o capitalismo até aquele momento. Modificou o regime de propriedade, as formas de produção e comercialização de mercadorias e redefiniu novas relações de poder. A instauração do sistema socialista na Rússia socialista constituiu a primeira grande ruptura e ameaça à supremacia do capital internacional. A transição entre os dois sistemas econômicos durou aproximadamente uma década. A partir de 1928, foi lançada a base que seria a principal característica do sistema socialista: a planificação da economia. Todo o sistema de produção e de organização do espaço geográfico passou a ser definido pelo planejamento do Estado. Houve a estatização dos meios de produção e das cooperativas agrícolas. A planificação industrial privilegiou a indústria de base. O objetivo era eliminar, ou diminuir ao máximo, a dependência de importação d equipamentos e matérias-primas industriais. Quando a indústria soviética atingiu um elevado grau de produção, capaz de alimentar outros setores industriais, especialmente o de bens de consumo, a aproximação da Segunda Guerra, assim como a pretensão soviética de expandir sua influência mundial, obrigaram a URSS a privilegiar os investimentos em pesquisa e produção armamentista. Mesmo após a guerra, essa política não sofreu alteração.

Taylorismo e fordismo – o processo de produção americano

No início do século XX, surgiram nos EUA duas importantes revoluções no processo produtivo, com a adoção de dois métodos de organização de trabalho: o taylorismo e o fordismo. O objetivo do taylorismo era atingir a máxima eficiência no processo produtivo com maior economia de tempo. O Taylorismo consistia na sistematização e padronização do trabalho, por meio de uma definição precisa do modo como cada uma das etapas da produção deveria ser realizada e do tempo que deveria ser dispendido em cada uma delas.

Henry Ford criou o processo de fabricação por meio da linha de montagem. O fordismo levou ao extremo a especialização do trabalho. Cada operário passou a executar uma ou duas operações sem sair de seu setor. Esse método também foi estendido e generalizado aos outros setores de produção. O fordismo e o taylorismo adaptaram o trabalho humano ao da máquina, transformando-o em uma engrenagem a mais e complementar à linha de montagem. A permanência do operário na fábrica foi substituída pela rotatividade freqüente. O modelo de produção implantado por Henry Ford foi fundamental à instalação de unidades de produção em outras regiões do mundo, onde a fabricação de mercadorias baseada na montagem em etapas não exigia, em princípio, qualificação de boa parte da mão-de-obra. O aumento da produtividade com a racionalização do trabalho, advinda do taylorismo e do fordismo, mostrou-se surpreendente, indo de encontro às necessidades das empresas capitalistas de aumentarem também os seu lucros.


A grande crise mundial


Ao mesmo tempo em que algumas empresasse associaram para alargar a sua capacidade de produção e competitividade, várias instituições financeiras começaram a participar diretamente da atividade industrial, através da formação das Sociedades por ações. Com o capitalismo financeiro, houve o início da fusão entre o capital industrial e o capital bancário. O correu uma extrema concentração de capital num número menor de empresas. É por essa razão que a fase do capitalismo financeiro é também chamada de fase do capitalismo monopolista. No início do século XX, a Bolsa de Nova York era o principal centro de investimento internacional. O volume de negócios realizados diariamente dava a impressão de que nada mais poderia deter o ritmo desenfreado do desenvolvimento capitalista. Mas o capital investido na produção não foi acompanhado pelo crescimento do mercado de consumo. Esse descompasso entre a superprodução desordenada e a ausência de consumidores com capacidade para absorvê-la ocasionou a grande crise 1929.

NEW DEAL


O período subseqüente à crise de 1929, conhecido como a depressão dos anos 30, obrigou os países a repensarem suas políticas econômicas. O New Deal, como ficou conhecido o programa implantado por Roosevelt. Estado não deveria limitar-se a regular as questões de ordem socioeconômica e política. Ele devia ser um planejador que dava as diretrizes, fixava as metas, estimulava este ou aquele setor da economia, de acordo com a conjuntura que se esboçava a cada momento. O modelo de Estado planejador implantado pelos EUA foi seguido por outros países europeus que, no final da década de 30, já haviam retomado o desenvolvimento. Mas em 1939 eclodiu a Segunda Guerra Mundial, que envolveu os países mais ricos da Europa, arrasando a economia desse continente.

Segunda Guerra Mundial

Já no final da Primeira guerra Mundial, as condições objetiva para a deflagração de uma nova guerra haviam sido criadas. A implantação do socialismo e sua consolidação Na URSS, os acordos de Paz, a crise de 1929, e a intensificação do nacionalismo- condição básica ao desenvolvimento dos partidos nazista e facista- criaram uma instabilidade permanente no continente europeu. Hitler contestou a ordem mundial definida pela Primeira guerra e formou com a Itália e o Japão uma nova aliança militar, conhecida como EIXO. Em 1938, a Alemanha ocupou a Áustria e em 1939, quando a o exército alemão invadiu a Polônia, os Aliados declararam guerra à Alemanha As forças do Eixo tiveram significativo avanço nos dois primeiros anos de guerra. No final de 1941, os Estados unidos e a URSS entraram na guerra ao lado das tropas aliadas. Em maio de 1945, quando o exército soviético ocupou Berlim, a Alemanha se rendeu incondicionalmente. Terminada a Guerra, os países europeus estavam falidos, as suas cidades, destruídas e a produção industrial e agrícola, totalmente desorganizada.

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